18/02/13

CAI A NOITE NA CIDADE


As luzes vão acendendo à medida que o sol desce. As nuvens vão-se instalando no horizonte prometendo complicar a vida aos que vivem ao relento e aos pássaros. Não há vento, nem à emoção ... tudo respira levemente esperando o que tiver de ser. Na ponte passam sombras minúsculas cheias de cinzentos ligeiramente mais escuros. Mais um dia que se arruma na solidão de um tempo infeliz ... afinal amanhã o sol voltará a nascer!

TROVOADAS DE FINAL DE VERÃO

Nas trovoadas do final do verão eu ficava na Fonte Nova a ver o evoluir das nuvens que, pairando sobre a serra da gardunha, se preparavam para semear chuva da grossa sobre os campos da Soalheira. Por vezes era apenas um espetador que a 4 km via o céu despejar água sobre a aldeia. à distância tudo parecia simples e normal mas quando chegava às primeiras casas apenas restava o chão lavado da calçada e pequenas poças como amostra do que por ali passou.
Pouco a pouco a vida regressava à normalidade ... a natureza em breves instantes transformava a vida em festa num silêncio de medo. Poucos eram os instantes em que pensava nisto.

17/02/13

PELA PAZ

A paz envolve todos os que gostam dela. Com ela vem a esperança, o trabalho e a vivência plena da liberdade. Não interessa a cor, o perfil ou a saudade, ela é algo que precisamos de cuidar para que nunca se esgote e nos acompanhe sempre. Nada de ruídos, de sons estridentes nem fantasias perigosas que nos façam perder o verdadeiro significado da paz.
Faz tudo o que puderes para manter o silêncio nos níveis atuais.
Se preciso for, luta por ela e joga com as armas que encontrares.

DESPERTAR

Acordei com o vidro pintado com a geada da madrugada. A luz do despertar procura entrar no meu quarto mas nada consegue. Lá fora ouvem-se os primeiros ruídos na manhã. Um carro que passa, um melro que ressona e vizinho que calçou uns sapatos. Nesta paz em que vivemos, são rotinas que nos fazem sentir acompanhados .... faz-nos sentir que pertencemos aqui.
No tejo as águas brilham com os primeiros raios de luz ... uma semana luminosa para todos.

16/02/13

DIAS NÃO IGUAIS

Fui-me perdendo por entre o nevoeiro da manhã. A brisa não convidava a respirar e o s teus passos não queria perder. O tejo, do outro lado da rua, estava escondido, adormecido ... esperando sem nada ter de fazer. E fui fintando as árvores do passeio na esperança de te encontrar, mas esse era um dia predestinado a não te encontrar ... afinal nem todos os dias são iguais.

14/02/13

MELANCIAS NO MILHEIRAL

Os campos da Tapadinha tinham um encanto indescritivel. A paz reinava por todo o lugar e só os meus avós é que se queixavam das raposas e suas investidas, que lhes roubavam as galinhas e os coelhos. As tardes soalheiras com frutos por todo o lado a água fresca da fonte do ribeiro ou do poço dos pessêgos fazia com que a sede fosse bem vinda. Os silvados cheios de amoras, as giestas altas sacudidas pelo vento do fim de tarde e o cheiro a pinheiros eram simplesmente pureza e davam bem estar.
Quando o calor descia o meu avô dava-me a liberdade de procurar a melhor melancia do milheiral. Corria por entre o milho e o feijão pequeno e lá encontrava a mais comprida, a mais redonda ou mais imprevisível. Grandes, muito grandes foram poucas mas a liberdade era toda minha.

FESTAS DE VERÃO

Nas noites de agosto, por entre a música e a brisa noturna, fingia que gostava do arraial e do barulho e pó dos dançantes que gostavam de rodopiar ao sabor do ritmo. Não consegui nunca colar. Gostava de descer a ladeira, observar o céu, ouvir o mocho ou coruja e ouvir os cães ao longe. É isso que eu guardo no meu ser. Parar no chafariz, brincar com a água e, quando a noite já estava cansada, ouvir chegar a primeira carroça a sair para o campo.
Tinha sempre dificuldade de saber se devia dizer bom dia ou boa noite mas a simpatia de quem passava levava-me dali para a cama. O tempo não volta a atrás mas eu nunca vou esquecer.


PIRILAMPOS

Nos fins de tarde, quando a noite descia lentamente, ali pelo Inchidro, pairavam pirilampos em voos lentos e incertos. Sabia bem, depois de palmilhar uns kilómetros, encontrar estes maravilhosos seres que riscavam o anoitecer de luz maravilhosa. Parecia  que saíam dos silvados e vinham para o caminho de terra batida saudar os viajantes ... mas o seu destino era outro. Iluminavam o caminho e brincavam com quem passava em maravilhosos abraços descomprometidos.
E hoje? Ainda andam por ali? Mandem notícias.

12/02/13

SOALHEIRA - FUNDÃO

Porque as tardes não têm fim? Os momentos passam suavemente nos dias de domingo ao longo da estrada da saudade.Nos cruzamos com gente gira e com carros indiferentes por entre muros baixos de pomares mal plantados e incertezas de moradores e donos. Não há bicicletas nem motas, há abelhas à solta e pássaros por todo o lado. Não interessam as cores das nuvens nem a posição do sol no céu, corre-nos a juventude nas veias e os sonhos no pensamento. A Soalheira vai passando pelas brasas nos agostos da minha infância.

11/02/13

A NEVE

Abrir a janela e deparar com um manto branco faz pasmar o comum dos mortais, principalmente se for num local onde isso não acontece com frequência. O silêncio abafa a exclamação e parece que a Terra parou de girar. São os telhados, as estradas apenas com o rodado das carroças no meio a mostrar a calçada, as árvores enfeitadas para outras festas e o céu vestido de um cinzento mágico.
Lembro sempre a primeira neve que vi. Entrou-me pela janela num tempo que usava calções e ainda lembro cada pormenor que a janela virada a sul me mostrava.

09/02/13

O GALO LÁ NA GARDUNHA


Majestosa entrada que nos abres os braços de boas vindas. Por ti saíram os corajosos em busca de mil aventuras para um lado qualquer do mundo. Avenida aberta com sinais de alegria e tristeza salpicadas de grandeza e abandono. Ao fundo fica a serra ... imponente e tranquila. Nós passamos e tu continuas à espera de novos turbilhões de forças infinitas que amadurecem ao fim de séculos.

NOITE NA MINHA ALDEIA


Sinto o cheiro a frio que embebeda a noite. Da serra descem rasgos de nevoeiro pintados de escuridão. Nos caminhos passeiam mosquitos desleixados que não sabem aguardar a manhã. Faz-se uma pausa no leve bater do meu coração.

SOALHEIRA ... SILVADOS

Deixa-me seguir por estes caminhos velhos que me viram crescer. Silvados teimosos sempre com vontade de pegar  onde abelhas vespeiras se escondem para procriar. São as amoras pretas e as maçãs a cair, são os risco no céu de um tempo a passar ... a minha aldeia continua agarrada ao sol que a protege e espera por aqueles que a guardam na alma.

01/02/13

DESENVOLVER AÇÕES ORIENTADAS PARA O ENCADEAMENTO CRONOLÓGICO DE ACONTECIMENTOS - 9.2


DOMINAR A COMUNICAÇÃO COMO UM PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO DE FACTOS - 9.1


Doce futuro

Quisera escrever de um tempo que não vivi. Pensava que tudo se resumia a imaginar  e manejar um lápis, desenhando letras que o acaso do meu querer queria. Mas nada disso aconteceu, vi apenas fumo e lágrimas e a vontade abandonou-me à minha sorte.
Pego em algo doce e fecho os olhos ... a vida segue com caminho definido e não me pertence a mim alterá-la.

PARA SUL

O dia está feliz. Os pássaros cantam livremente, as abelhas passam rasante entre os silvados e no céu riscos brancos de aviões indiferentes. Passo o S. António e entro nas retas abertas pelos antigos, ladeados de muros novos e velhos que já assistiram a histórias pretas e de encantar. A Várzea, sempre sossegada, espraia-se por entre o milheirais e couves e vou descendo fazendo curvas e contracurvas. Cada curva do caminho lembra-me uma história de um passado com décadas e às vezes lá me cruzo com alguém, ou um carro que parece perdido mas com rumo pensado. A Aguadalto lá continua no meio da reta, agora mais triste e só. O tio Penuxo deixou na minha memória um nome para o lugar , enquanto as cegonhas brancas vão espreguiçando nas horas primeiras dos dias. Finalmente a Fonte Nova. terras frágeis e arenosas de espaços abertos e maravilhosos, estão semeadas de tudo o que calha. Olhar para sul ... encanta-me.