31/12/10

NOVO ANO ESTÁ AÍ


No livro que é a vida
Mais uma página se vai virar
É uma viagem apenas com ida
Sem saber como vai acabar

De cada vez estouram foguetes
Ficamos felizes ... é saber viver!
Renova-se o sonho e a esperança
Parece que voltamos a nascer

30/12/10

Bom ano de 2011


Pois é ... a meia-noite não espera ... e já tratei de comprar e preparar os últimos instantes de 2010. Telefonei para os amigos, limpei os sapatos porque o Ano Novo insiste em ser novo, descongelei um pouco de camarão, limpei os tapetes do carro, tirei a carga magnética do gato e temperei a minha vivência com optimismo e boa disposição para que o próximo ano não me abata ... traga ele o que trouxer.
Com a esperança um pouco despenteada e a paisagem bem molhada seleccionei o que devo deitar fora ... já que ferro velho, cá em casa, não falta.

Amanhã ainda vou limpar os vidros ... quero ver bem o que o novo ano me vai oferecer.
Seja como for, há que batalhar e acreditar, para que os pesadelos sejam apenas uma trovoada que passou ao longe. Se chegar perto ... logo se vê.

BOM ANO DE 2011.

27/12/10

PAPAGAIO DE PAPEL


Construí um papagaio
De sonhos e de papel
Lancei-o com o vento a favor
Para um céu cor de mel

Usei canas de bambu
Com certa espessura
Quem me valeu foste tu
Fomos os dois à aventura

Papel de seda
Cola branca
Fio do norte
Mas não levanta

22/12/10

SEGUE O ACASO

Segue o acaso
Sempre decidido
Bate com os pés
Quer ser ouvido

Arrisca pensar
Mas nada mudou
Pensa em voar
Mas nunca descolou

PEGADA PERDIDA

Enquanto espero
Deito contas à vida
Enquanto desespero
Embalo uma cantiga

Vejo quem passa
Nesta avenida
Sigo todos os passos
Numa pegada perdida

DONO DA RUA

Olhas de lado
Fazes beicinho
Ficas zangado
Sem um beijinho

Braços cruzados
Olhar torcido
Arreliado
Sem ter perdido

Cabeça de vento
Sempre a armar
De mãos nos bolsos
Sempre a andar

Ele é o rei do ... contra
Só tem uma lei
E essa é que conta

É dono da rua
É ele e mais ninguém
Abraça o mundo
Esconde-o com desdém

ESTAÇÃO DE ALVERCA


NEVOEIRO NA LEZÍRIA


NOITES DE NEVOEIRO


ENTRONCAMENTO 2010







CARETAS

Há mil posições
Letras de canções
Para se saber estar

Má mil maneiras
De contar asneiras
Sem magoar

Se é sério é mistério
Se ris é para libertar
O dedo na boca e a cara marota
São para desafiar

Chato e aflito
Olhos em bico
Dá para reflectir
Os braços cruzados
Os lábios cerrados
O pino para curtir

E desafias
Tudo levas a peito
Ameaça uma lágrima
Contém ... por respeito

21/12/10

AMIGOS

Amigos
São companheiros
Sempre os primeiros
A chegar
Amigos
São janelas
Espelhos, telas
Para nos olhar
Amigos
São sorrisos
Braços precisos
Para viver
Amigos
São fortes asas
São doces brasas
Para nos fazer voar e aquecer

20/12/10

FELIZ NATAL



SE AS PEDRAS PUDESSEM FALAR


Moras na beira do estrada
Murada com outras assim
Fazes parede do meu jardim
Sempre ali parada

Tens marcas, sulcos daqui e de além
Riscos do tempo que passa
Alheia à força ou à desgraça
Não tens amor por ninguém

Tanto podias contar
Tantas dúvidas esclarecer
Quem tu por aqui viste passar
Num tempo que passa a correr

INVERNO


Cai essa chuva
Miudinha, sobre a terra
Esconde a ponte, o horizonte
E o cume da serra

Tudo cinzento, tudo lamento
Num dia sem cor
Inverno instalado
Com frio maior

VIGILANTE DA NATUREZA


Sei que sou
O que dou
E o que recebo

Sei que sou
Um alvo em movimento
Se interesso
O que desconheço
Sigo sem lamento ...
São apenas palavras
Coisas raras
No teu universo

Há quem afirme
Que não não é bem assim
Há quem dizime
Um elefante por marfim
Há quem chore
Por um caco sem valor
Há quem explore
Sem olhar a dor

E tu
Vigilante da natureza
Com coragem e certeza
Sonhas sem fim!

19/12/10

PRINCÍPIOS


Há um primeiro passo
Há um primeiro tiro
Um primeiro amaço
Pela primeira vez respiro

E há um princípio para tudo
Não importa o tamanho da letra
Há princípios que são de vida
Aos quais nada afecta

TEMPO


Há portas abertas
Ninguém entra nelas
Há ruas desertas
Casas sem janelas
E fico a pensar
O que pode mudar!
Neste mundo em movimento!
Todos dizem que não há tempo
Tempo ... é o que vai sobrar

18/12/10

A ORIGEM DO CONTO DO VIGÁRIO , por Fernando Pessoa

Vivia há já não poucos anos, algures, num concelho do Ribatejo, um pequeno lavrador, e negociante de gado, chamado Manuel Peres Vigário.
Da sua qualidade, como diriam os psicólogos práticos, falará o bastante a circunstância que dá princípio a esta narrativa. Chegou uma vez ao pé dele certo fabricante ilegal de notas falsas, e disse-lhe: «Sr. Vigário, tenho aqui umas notazinhas de cem mil réis que me falta passar. O senhor quer? Largo-lhas por vinte mil réis cada uma.» «Deixa ver», disse o Vigário; e depois, reparando logo que eram imperfeitíssimas, rejeitou-as: «Para que quero eu isso?», disse; «isso nem a cegos se passa.» O outro, porém, insistiu; Vigário cedeu um pouco regateando; por fim fez-se negócio de vinte notas, a dez mil réis cada uma.
Sucedeu que dali a dias tinha o Vigário que pagar a uns irmãos negociantes de gado como ele a diferença de uma conta, no valor certo de um conto de réis. No primeiro dia da feira, em a qual se deveria efectuar o pagamento, estavam os dois irmãos jantando numa taberna escura da localidade, quando surgiu pela porta, cambaleando de bêbado, o Manuel Peres Vigário. Sentou-se à mesa deles, e pediu vinho. Daí a um tempo, depois de vária conversa, pouco inteligível da sua parte, lembrou que tinha que pagar-lhes. E, puxando da carteira, perguntou se, se importavam de receber tudo em notas de cinquenta mil réis. Eles disseram que não, e, como a carteira nesse momento se entreabrisse, o mais vigilante dos dois chamou, com um olhar rápido, a atenção do irmão para as notas, que se via que eram de cem.
Houve então a troca de outro olhar.
O Manuel Peres, com lentidão, contou tremulamente vinte notas, que entregou. Um dos irmãos guardou-as logo, tendo-as visto contar, nem se perdeu em olhar mais para elas. O vigário continuou a conversa, e, várias vezes, pediu e bebeu mais vinho. Depois, por natural efeito da bebedeira progressiva, disse que queria ter um recibo. Não era uso, mas nenhum dos irmãos fez questão. Ditava ele o recibo, disse, pois queria as coisas todas certas. E ditou o recibo – um recibo de bêbedo, redundante e absurdo: de como em tal dia, a tais horas, na taberna de fulano, e «estando nós a jantar (e por ali fora com toda a prolixidade frouxa do bêbedo...), tinham eles recebido de Manuel Peres Vigário, do lugar de qualquer coisa, em pagamento de não sei quê, a quantia de um conto de réis em notas de cinquenta mil réis. O recibo foi datado, foi selado, foi assinado. O Vigário meteu-o na carteira, demorou-se mais um pouco, bebeu ainda mais vinho, e daí a um tempo foi-se embora.
Quando, no próprio dia ou no outro, houve ocasião de se trocar a primeira nota, o que ia a recebê-la devolveu-a logo, por escarradamente falsa, e o mesmo fez à segunda e à terceira... E os irmãos, olhando então verdadeiramente para as notas, viram que nem a cegos se poderiam passar.
Queixaram-se à polícia, e foi chamado o Manuel Peres, que, ouvindo atónito o caso, ergueu as mãos ao céu em graças da bebedeira providencial que o havia colhido no dia do pagamento. Sem isso, disse, talvez, embora inocente, estivesse perdido.
Se não fosse ela, explicou, nem pediria recibo, nem com certeza o pediria como aquele que tinha, e apresentou, assinado pelos dois irmãos, e que provava bem que tinha feito o pagamento em notas de cinquenta mil réis. «E se eu tivesse pago em notas de cem», rematou o Vigário «nem eu estava tão bêbedo que pagasse vinte, como estes senhores dizem que têm, nem muito menos eles, que são homens honrados, mas receberiam.» E, como era de justiça foi mandado em paz.
O caso, porém, não pôde ficar secreto; pouco a pouco se espalhou. E a história do «conto de réis do Manuel Vigário» passou, abreviada, para a imortalidade quotidiana, esquecida já da sua origem.
Os imperfeitíssimos imitadores, pessoais como políticos, do mestre ribatejano nunca chegaram, que eu saiba, a qualquer simulacro digno do estratagema exemplar. Por isso é com ternura que relembro o feito deste grande português, e me figuro, em devaneio, que, se há um céu para os hábeis, como constou que o havia para os bons, ali lhe não deve ter faltado o acolhimento dos próprios grandes mestres da Realidade – nem um leve brilho de olhos de Macchiavelli ou Guicciardini, nem um sorriso momentâneo de George Savile, Marquês de Halifax.

Contado por Fernando Pessoa.

12/12/10

Paz na terra aos homens de boa vontade!



CIRCO DE NATAL


Todos os anos o circo chega à cidade. O Natal reaviva a velha tradição e o maior espectáculo do mundo invade o centro e a periferia da cidade de Lisboa.
Sabe bem ver o desfile de artistas passear a sua arte nestes dias tristes sem saudade.

ESTAÇÃO DE ALVERCA



DEZEMBRO EM LISBOA



LONGE DAQUI


Estou aqui, agora
Mas nunca pertenci aqui
Sinto cá dentro
Um vazio que chora
Oco, sem sentimento

Parece uma viagem
Sem destino
Qualquer lado serve
Cá levo a tua imagem
Já não sei quem perde!

06/12/10

BALOIÇO DO JARDIM

Sentei-me no baloiço da esquerda para ficar com vista para a torre do jardim. Por baixo da frescura de um fim de tarde de Agosto, algumas pessoas passeavam pelas ruas desenhadas a régua e esquadro. Lembrei-me de um gelado, de um pãozinho com fiambre ou mesmo uma simples maçã. Tinha prometido esperar por ele, ali no jardim central da vila e ele nunca mais chegava!
Meia-hora ... é demais, levantei-me, encaminhei-me para a saída ecom passos largos fui andando até casa para por a escrita em dia.
O baloiço ficou descrevendo aquele movimento pendular ...

SONHO


Moro num palácio aniloso, brilha intensamente na noite e ao mesmo tempo, é invisível.
As pedras são leves e as paredes suportam um telhado desalinhado que balança suavemente para nenhum lado.
Navega à volta deste planeta numa trajectória circular feita de curva contínua e deslize brando.
Enquanto observo o fumo que sai das cavalariças, acordo e pergunto-me ... afinal qual é o planeta?

05/12/10

VENTO LOUCO


Livre voas
Corres pelos campos
Estás em todo o lado
Cavalo louco
Sempre solto
Nunca estás cansado

De dia e noite
Sopras a tua canção
Gostava de te ver
Só para saber
Se sorris ou não

Espreitei de manhã
Para saber como é, o teu acordar
Mas tu estás sempre escondido
E eu rendido,
Deixo de procurar

03/12/10

VENTO


Debaixo da árvore olhei a folhagem da oliveira numa tarde quente de Agosto. Pequenos arcos-íris brilhavam entre as folhas e o vento ia embalando docemente ramos e frutos. Perguntei quem te empurra para aqui a esta hora, e apenas ouvi muito baixinho, um gigante que vive por cima das nuvens. Todo o dia? Sacodes com tanta força estes campos e estes matagais, o que te move? És velho ou novo, és feio ou lindo ...
Apenas ouvi ... à noite vou soprar com mais força.

Papagaios de Papel


DOBREI O PAPEL CONTRA O FIO.
Ao fio, suavemente, enrolei-o no enleio e deixei-o deslizar contra o chão. Pintei sorrisos nos quatro cantos e na cauda alternei segredos e certezas. Corri contra o vento e levantei os pés do chão em movimentos alternados. Mas o papagaio não me levou ... fiquei para fazer mais!

ERA UMA VEZ ...


Era uma vez um homem ...
Com os braços grandes e as unhas escuras.
E cavava a terra com garra, energia e persistência.
Cansado, sentou-se em cima do vento e partiu para longe.
Insatisfeito com o que viu, procurou de novo o vento, mas não mais o achou.

CURIOSIDADES SOBRE O VENTO


O vento é o ar em movimento. Ele existe porque o ar que envolve o nosso planeta nunca está todo à mesma temperatura. Todas as formas de ventos - das brisas aos furacões - são deslocamentos de massas de ar resultantes das diferentes temperaturas e pressões nas várias regiões atmosféricas.

02/12/10

AUTOPSICOGRAFIA - FERNANDO PESSOA


O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que devereas sente

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração